Exposição “Areias do Mundo” do IGc na Unicamp

Por Karolina von Sydow

Exposição permite observação de algumas amostras utilizando a lupa. Crédito: Portal Unicamp.

Já imaginou se sentir nos Lençóis Maranhenses ou mesmo em uma praia mais longe ainda, no Havaí, sem precisar se transportar geograficamente? Estes locais apresentam uma geodiversidade peculiar e, ao mesmo tempo, possuem um elemento em comum que atrai olhares e conquista fãs e colecionadores. O componente misterioso, que possui diversos aspectos e origens de formação, é a areia. A areia é um tipo de sedimento inconsolidado, proveniente da fragmentação de rochas pelo processo de erosão, após etapa de intemperismo, se caracterizando como produto importante oriundo do ciclo das rochas. As partículas podem ser observadas não apenas em praias, mas em outros ambientes naturais, como dunas e rios, por exemplo.

Com a missão de divulgar conceitos de geociências, partindo da contemplação de areias de diferentes locais do Brasil e do mundo, a Professora Doutora do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (IGc-USP), Christine Laure Marie Bourotte, que também atua no GeoHereditas em projetos e pesquisas dirigidas à divulgação científica e proteção da geodiversidade, idealizou a exposição “Areias do Mundo”. A exposição, que já passou, desde 2017, pelo Parque de Ciência e Tecnologia (CienTec), Instituto de Geociências (IGc-USP) e Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH-USP), é gratuita e está disponível, desde maio do último ano, no saguão central do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) para visitação.

A iniciativa, que conta com a parceria do  Museu Exploratório de Ciências da UNICAMP, além de possibilitar a análise de amostras, permite o uso de kits didáticos específicos, criados pela pesquisadora Christine, para estudo dos tipos de areias disponíveis.

Origem e objetivo central

A iniciativa surgiu de um Projeto de Pesquisa da professora Christine Bourotte vinculado à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), de 2011, intitulado “Estudo granulométrico, mineralógico e químico das areias como subsídio ao desenvolvimento de atividades de ensino e divulgação em geociências”, e contou com a colaboração de alunos voluntários e bolsistas – FAPESP, CNPq e Reitoria – de Graduação do Instituto de Geociências da USP.

Christine explica a importância do estudo das areias e métodos que vêm utilizando para a divulgação geocientífica a estudantes e sociedade.“Cada grão de areia tem uma história para contar dentro do ciclo da natureza. Isso é fantástico! Neste sentido, decidi pesquisar o tema – origem, processos de formação e características fundamentais. E, consequentemente, trabalhar o assunto em atividades de educação científica e difusão das geociências em sala de aula, por meio de práticas em grupo e estudo do meio”, conta.

“Depois pensei em uma abordagem temática-educativa para trabalhar o assunto de forma criativa com a sociedade, daí surgiu a ideia da exposição. A exibição possibilita o acesso do público às informações das amostras, através de leitura via aplicativo QR code, e visualização do local de origem de cada sedimento pelo Google Earth”, complementa ela.

Na prática

A exposição disponibiliza amostras de areias coletadas de 14 lugares diferentes do mundo. Entre os pontos elencados, há registros de praias do Brasil, como Ilhabela, no Litoral Norte de São Paulo. Além de registros de áreas litorâneas de países, como a Tailândia, Japão, Marrocos, Antártida, entre outras regiões.

O intuito é proporcionar aos visitantes o conhecimento dos processos de sedimentação referentes à história de formação dos grãos de areia e sua diversidade na natureza, através de uma viagem aos seus respectivos locais de origem.

 “A proposta é, primeiramente, atrair o interesse das pessoas pela geologia e pelo funcionamento dinâmico do nosso Planeta; agentes e processos envolvidos. Para em seguida, desenvolver uma compreensão dos ciclos de constituição de elementos geológicos, como das areias. E         neste contexto, instigar o reconhecimento de cores, formatos e tipos de granulação das partículas, relacionando-os com os ambientes deposicionais”, explica a pesquisadora Christine, com Mestrado e Doutorado em Geociências.

Além dos painéis, a exposição conta também com uma maquete do litoral do Estado de São Paulo, idealizada pelo GeoHereditas, que inclui amostras de areias das partes Norte e Sul dessa região, e o relevo da Serra do Mar.

Painel da Ilha de Páscoa, ilha vulcânica, localizada no Chile. Crédito: Christine Bourotte

Exposição é uma experiência transformadora e sensorial

“Eu adoro a exposição, desde a primeira vez que a vi, quando estava exposta em outro local. Sinto como se estivesse naquelas praias ou desertos, coletando as areias. Não tenho como saber como cada um se sente ao visitar a exposição, mas percebo que ela transforma a visão de mundo das pessoas”, afirma a professora e coordenadora da exposição na UNICAMP, junto à professora Christine Bourotte, Ana Elisa Silva de Abreu.

Ana Elisa também destaca algumas reações curiosas do público ao entrar em contato com as amostras, as quais algumas podem ser tocadas e outras somente observadas pela lupa, revelando uma percepção geral quanto às diferenças existentes entre as areias. “Alguns dizem; nossa, tem bichinhos!”, revela.

Painel apresenta carapaças, que lembram a aparência de uma estrela, encontradas em praias de Okinawa, no Japão. Crédito: Portal Unicamp.

Segundo Christine, os interesses dos visitantes pelas areias variam e muitas pessoas se atraem por amostras referentes a lugares que já estiveram e guardam alguma memória afetiva e de identificação.“O olhar microscópico atrai e cada um pode formar uma concepção própria de Universo. Algumas pessoas ficam mais encantadas com amostras biológicas, outras com o brilho e formatos das areias. É um olhar diferenciado de cada um sobre um planeta”, revela a professora.

Com o sucesso de público, a exposição “Areias do Mundo”, que ficaria até dezembro de 2019, foi prorrogada para até o início de março deste ano. O Instituto de Geociências da UNICAMP  se localiza na Rua Carlos Gomes, 250, Cidade Universitária,  em Campinas.