Por Karolina von Sydow
22 de Abril de 2019
Você já passeou pelo centro da cidade de São Paulo? Já frequentou ou visitou as suas ruas mais icônicas, monumentos e construções históricas além de suas tradicionais lojas e edifícios?
Com a missão de ampliar a divulgação de trabalhos que vêm sendo desenvolvidos na área geocientífica, o Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo realizou, nos dias 4 e 5 de abril, o 1º Simpósio de Pós-Graduação.
O Núcleo de Apoio à Pesquisa em Patrimônio Geológico e Geoturismo (GeoHereditas) participou do evento, com apresentação de pesquisas e exposição de folders explicativos no saguão.
No primeiro dia, a doutoranda Fernanda Coyado Reverte apresentou a pesquisa do inventário científico da Bacia de Taubaté, no interior do Estado. “O meu objetivo é identificar, detalhadamente, potenciais pontos geológicos que culminaram para a formação desta Bacia. Os resultados obtidos me auxiliarão ainda na análise de risco destas áreas, além de incentivar estudos e pesquisas científicas”, afirma.
Para definir estes geossítios, Fernanda se baseou em categorias geológicas pré-definidas. No total, 18 geossítios foram selecionados. Segundo ela, o desafio agora é promover a divulgação de dados coletados e buscar parcerias e apoios para gestão e conservação permanente da Bacia.
“Um dos principais fatores de degradação dos geossítios é a intervenção antrópica, principalmente referente à construção de rodovias e aeroportos, que acabam destruindo o patrimônio geológico”, destaca ela. Outra etapa do projeto, trata-se da avaliação dos serviços ecossistêmicos da região.
No segundo dia, a doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Mineralogia e Petrologia, Fabíola Menezes dos Santos, apresentou a pesquisa de inventário e avaliação quantitativa dos sítios da geodiversidade com valor turístico no Geoparque Ciclo do Ouro, Guarulhos.
A pesquisa, em andamento, prioriza o uso de metodologias participativas, mapeamento socioambiental e colaboração de diversos atores sociais para fomentar estratégias de gestão do patrimônio natural e atividades turísticas locais. Além de buscar soluções para resolução de problemas e conflitos identificados.
A plateia também conferiu pesquisa de patrimônio geológico e construído em áreas urbanizadas, com exemplo da Baixada Santista. Durante a apresentação, Debora Silva Queiroz, atualmente aluna de doutorado no IGc, enumerou propostas de proteção dos locais de interesse geológico e do patrimônio construído de Santos, Cubatão e São Vicente. Enfatizou, também, as rochas e sua relação com o contexto histórico das edificações de Santos.
No trabalho também foram apresentadas duas propostas de roteiros geoturísticos para difusão de conhecimentos geológicos locais e da diversidade pétrea nas edificações.
Com base em uma pesquisa multidisciplinar, a doutoranda Patrícia Marques Magon, cuja orientadora é professora e integrante do núcleo GeoHereditas, Eliane Del Lama, apresentou para a plateia processos de estudo de confecção da cerâmica, uma das artes mais antigas do mundo e que vem acompanhando a evolução da história cultural e de civilizações há milhares de anos.
A cerâmica é um material resistente, composto pela mistura de areias e argilas, e pode ser utilizada como matéria-prima para produção de diversos utensílios e peças ornamentais. Esta também pode ser encontrada em escavações e registros arqueológicos.
Neste sentido, de acordo com Magon, o propósito da pesquisa é utilizar métodos tecnológicos das ciências físicas e naturais, destacando, principalmente, a mineralogia aplicada, para estudo de questões arqueológicas e de patrimônio cultural, chamada de arqueometria. O processo inclui a caracterização geológica de minerais e descrição de processos presentes nas cerâmicas para fornecer dados aos arqueólogos.
“Eu uso tecnologias aplicadas para compreender a complexidade de formação das cerâmicas e identificar os povos milenares que as utilizaram. A petrografia, por exemplo, utiliza um microscópio que descreve a mineralogia das cerâmicas (proporção entre areias e argilas nos materiais) e interação entre estes elementos; a difração de raios-x identifica as fases de minerais presentes e a termoluminescência auxilia na determinação das temperaturas de queima dos minerais”, explica Patrícia.
Atualmente, a doutoranda vem desenvolvendo estudos de proveniência destes materiais, com base em mapas de onde foram coletados registros.
Para potencializar o alcance e divulgação das geociências na sociedade, além da promoção de práticas de geoconservação, vem sendo discutidas estratégias de Geocomunicação.
Andrea Duarte Cañizares apresentou as metodologias que vem aplicando na sua pesquisa de mestrado no IGc-USP, de estudos de percepção social e estratégias de divulgação da geodiversidade.
“O objetivo é incentivar o interesse do público em obter informações sobre conceitos gerais da geologia e geodiversidade, buscando também formar cidadãos conscientes a respeito do uso responsável de recursos naturais e da importância da conservação do patrimônio geológico”, explica.
Para descobrir a percepção e interesse do público sobre o assunto, Andrea vem realizando entrevistas, a partir de questionários e uso de formulários online. A experiência já revelou que os entrevistados não costumam associar geodiversidade com questões socioambientais atuais.
“A maioria das pessoas se interessa mais em apenas visitar os geossítios, como lazer e entretenimento, do que buscar conhecimentos geológicos locais’’, complementa Andrea ao se referir às áreas selecionadas: Parque do Varvito, Caverna do Diabo e Pico de Itapeva.
No saguão, Stephani Somekawa apresentou para avaliadores sua dissertação de mestrado, defendida recentemente no IGc-USP, com o tema “Inventário e avaliação de locais de interesse geológico em Iguape e Ilha Comprida, no litoral de São Paulo”.
Com orientação da Professora Maria da Glória Motta Garcia, que realiza projetos voltados à área de Geoconservação no Núcleo de Apoio à Pesquisa em Patrimônio Geológico e Geoturismo (GeoHereditas) da USP, a pesquisadora de mestrado apresentou proposta de gestão, conservação e uso sustentável de sítios geológicos representativos do Litoral Sul do Estado.
Em São Paulo, há grandes obras arquitetônicas e monumentos que se tornaram patrimônio histórico-cultural e que caracterizam a identidade da cidade. Entretanto, ações antrópicas e naturais vêm degradando fachadas, revestimentos e monumentos graníticos, principalmente quando expostos à urina humana.
O objetivo da pesquisa de mestrado de Aranda Calió dos Reys foi identificar estas formas de degradação recorrentes na cidade. “Durante a história da humanidade, a pedra foi o material mais usado na construção de obras arquitetônicas na formação das cidades, devido a sua capacidade em ser transformada e de perdurar no tempo; além de sua baixa manutenção e o apelo estético. Todavia, estes materiais rochosos não estão salvos, tanto das ações antrópicas, quanto do intemperismo”, explica Reys.
Para a realização deste estudo, foram definidos três tipos de rochas de acordo com suas características petrográficas e cromáticas: Granito Preto Piracaia, Granito Rosa Itupeva e Granito Cinza Itaquera. “Esses litotipos foram escolhidos em razão do vasto uso no patrimônio construído do município de São Paulo. Dessa forma, foram definidos monumentos e edifícios construídos a partir das rochas em estudo”, disse.
Para estudo das amostras coletadas nos trabalhos de campo, foram utilizadas técnicas de análise, como: microscopia petrográfica, espectrofotometria, velocidade de propagação de ondas ultrassônicas e microscópio de varredura eletrônica. Já o ensaio de alteração por imersão parcial foi definido como de fundamental importância ao projeto, por fornecer a simulação da durabilidade dos materiais diante à exposição aos ambientes quimicamente agressivos.
O estudo ainda utilizou urina artificial para a realização do ensaio de alteração, com base em um estudo internacional de medicina. O ensaio foi executado por trinta ciclos, totalizando sessenta dias de monitoramento diário.
Aranda resume os resultados da experiência de pesquisa. “Após a realização do ensaio, houve surgimento de alterações cromáticas e cristalização de sais nas porções emersas dos corpos de prova dos três tipos de granito, principalmente para os grupos “não-higienizados” e os “lavados com água natural”. Além disso, houve aparição de quebras (perda de material) das amostras do Granito Preto Piracaia, com maior significância naquelas do grupo “higienizados com água sanitária”, conclui.
Também integrou o conjunto de painéis expostos no saguão, a tese de doutorado de Vanessa Costa Mucivuna, sobre propostas metodológica de elaboração de planos de interpretação para o patrimônio geomorfológico em áreas protegidas, com base de aplicação no Parque Nacional do Itatiaia, primeira unidade de conservação intitulada no Brasil.
Em intercâmbio na Universidade de Lausanne, na Suíça, Vanessa Mucivuna foi representada no evento pela sua orientadora, Maria da Glória Motta Garcia. “A pesquisa se fundamentou no inventário e avaliação quantitativa do patrimônio geológico da região, com destaque para o patrimônio geomorfológico”, ressaltou a professora para avaliadores.
Com o sucesso do evento, o Instituto de Geociências da USP tem a pretensão de realizar o Simpósio de Pós-Graduação a cada dois anos. “A iniciativa é de suma importância para divulgação dos trabalhos do Instituto, ações de geoconservação e proteção de patrimônios naturais e construídos”, destaca a professora Maria da Glória, que desenvolve trabalhos no Núcleo de Apoio a Pesquisa GeoHereditas.
Áreas de atuação
Produção acadêmica
Divulgação científica