II Simpósio de Pós-Graduação do IGc/USP

Por Karolina von Sydow

O reconhecimento da importância de pesquisas científicas em prol da manutenção da qualidade de vida social e ambiental é essencial para o desenvolvimento sustentável de um país. Neste âmbito, apesar do cenário atual de pandemia de Coronavírus, entre os dias 19 e 20 de agosto, o Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (IGc-USP) realizou, no formato digital, o 2º Simpósio de Pós-Graduação que abre espaço para mestres e doutores participantes dos três programas dos departamentos de Geoquímica e Geotectônica; Recursos Minerais e Hidrogeologia, e Mineralogia e Petrologia apresentarem os estudos que vêm sendo realizados na área científica e precisam ser difundidos na sociedade. A equipe do GeoHereditas participou dos dois dias do Simpósio.

1º dia – 19 de agosto

No primeiro dia, a doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Mineralogia e Petrologia, Débora Silva Queiroz, compartilhou a sua pesquisa sobre o estudo da geodiversidade da Baixada Santista, litoral de São Paulo, composta de nove municípios, e construção de um mapa índice da região.

“É um método (cartográfico) quantitativo e trabalha com a composição de mapas para gerar índices de geodiversidade, buscando entender onde está a distribuição dos elementos e onde estão concentrados. Essa metodologia permite uma visualização muito rápida de como o meio físico está se comportando, além da facilidade de uso em diversas escalas (seja mais restritiva ou até regional)”, explica.

Em relação aos subíndices determinados para análise comparada, a pesquisa detectou que os campos da geologia e geomorfologia são primordiais para revelação de resultados satisfatórios do estudo. “Ao analisar os subíndices de geodiversidade, percebe-se qual característica do meio físico é relevante para tal área de estudo”, sinaliza Débora.  

Em seguida, a doutoranda Eliana Mazzucato apresentou uma pesquisa, em desenvolvimento, intitulada “Gemorfossítios de processos costeiros do Litoral Norte de São Paulo: exemplos para o ensino de Geociências e Educação Ambiental”, cujo objetivo é identificar estas formas de relevo relevantes que precisam ser preservadas na região e avaliar as suas potencialidades educacionais.

O tema é de grande importância para a divulgação do conhecimento geocientífico, já que está interligado a assuntos significativos, como mudanças climáticas e ambientais que ocorreram durante a história geológica da Terra, e incentiva práticas em educação ambiental com o intuito de esclarecer, de forma didática, o funcionamento do planeta e as relações existentes entre sociedade e natureza. A pesquisadora explica a proposta metodológica aplicada no estudo (Reynard el al. 2016), interligada ao sistema de inventário de geomorfossítios.

“Nesse método há duas etapas: 1. Seleção, se dá através da caracterização do contexto geomorfológico da área de estudos, seguidas pela elaboração de listas de potenciais geomorfossítios (por pesquisas bibliográficas e trabalho de campo) e, a partir de critérios, ocorre a seleção ou não dessa lista para a avaliação.  2. Avaliação, descrição e avaliação quantitativa do geomorfossítio, seguida pela etapa da descrição do uso e gestão (avaliação dos aspectos educacionais presentes nesse morfossítio – facilidade de interpretação e qual interesse educativo)”, explica.

Já a mestranda Karina de Souza Ibanez apresentou um pôster sobre uma pesquisa de registro da geodiversidade e caracterização do patrimônio geológico tectônico na Faixa Ribeira central, a partir da análise estrutural e geométrica de boudins como indícios da evolução regional, no litoral norte de São Paulo.

“A boudinagem refere-se ao processo de fragmentação de camadas/ corpos competentes entre camadas relativamente incompetentes e seu estudo pode fornecer informações relevantes acerca da deformação da região (mapa geológico da região)”, explica ela.

O objetivo final do trabalho é selecionar, a partir do trabalho de campo e uso de produtos geoespaciais, novos geossítios encontrados na região, categorizando-os segundo o critério do Brilha (2016): 1. Representatividade, 2. Integridade, 3. Raridade, 4. Conhecimento cientifico. Para, em seguida, cadastrá-los na ferramenta GEOSSIT da CPRM.

Para a pesquisadora, o importante é que o projeto consiga, através desta metodologia de caracterização geológica, promover a valorização do patrimônio geológico do litoral norte do estado e demonstrar a sua relevância científica, promovendo ainda medidas de promoção e disseminação da geodiversidade.

Para encerrar as apresentações do dia, a mestranda no Programa de Pós-Graduação em Mineralogia e Petrologia no IGc-USP, Laura Pereira Balagues, apresentou resultados preliminares acerca da identificação dos serviços ecossistêmicos provindos da geodiversidade do município de Caraguatatuba e Parque Estadual da Serra do Mar. A pesquisadora explica a importância dos serviços ecossistêmicos para a sociedade.

“Os serviços ecossistêmicos providos pela geodiversidade são bens e serviços fornecidos pela natureza que beneficiam direta e indiretamente a sociedade. Podem ser classificados de acordo com as funções ecossistêmicas de regulação, provisão, suporte, cultural e conhecimento (Gray, 2013). É importante avaliar a geodiversidade por meio dessa abordagem para que possa desenvolver estratégias de conservação da natureza”.

Sobre os resultados atingidos por meio deste trabalho, realizado em três etapas, Karina revelou que foram elencados 51 serviços ecossistêmicos, divididos em 5 funções, já mencionadas acima: regulação, suporte, provisão, conhecimento e cultural.

2º dia – 20 de agosto

No segundo dia de evento, o aluno de Mestrado pelo Departamento de Mineralogia e Petrologia do IGc-USP, Gustavo Scuracchio Rossi, apresentou pôster sobre os resultados da análise de materiais e recursos educativos desenvolvidos em Geoparques Globais da UNESCO.

Sobre a escolha do tema de pesquisa, Gustavo pontua que “o conceito é relativamente novo e vem ganhando visibilidade nacional e internacional por ser administrado com base em um conceito holístico de proteção, educação e desenvolvimento sustentável. É importante para a promoção de ações educativas em geociências destinadas a diferentes públicos, como escolar e turístico”.

De acordo com os resultados da pesquisa, a promoção e divulgação de atividades educativas em geoparques ainda são pouco exploradas. “Dos 161 websites analisados, 34 estavam inativos, em 29 não foram identificados recursos educativos e 64 sites apresentavam atividades não muito detalhadas”, revela o mestrando.

Para finalizar as apresentações do 2º Simpósio de Pós-Graduação do IGc-USP, a pesquisadora Andrea Duarte Cañizares apresentou o pôster “Percepção das Geociências e da Geodiversidade nos Geossítios Caverna do Diabo, Parque Geológico do Varvito e Pico do Itapeva – SP” e explicou a importância de compreender o potencial do sentido da percepção para a valorização da geodiversidade e fomento de práticas de conservação de geossítios. “Por que estudar a percepção? Embora a geodiversidade esteja presente em tudo ao nosso redor, ela é dificilmente percebida de forma adequada pelo público em geral. Essa percepção ambiental significa a forma de como um indivíduo interpreta o mundo”.

O trabalho de análise de percepção baseou-se na aplicação presencial e online de questionários, como trabalho de campo investigativo dos três geossítios escolhidos “dentro do inventário do patrimônio geológico de São Paulo”, que são áreas de estudo do NAP GeoHereditas e representam a “história geológica do estado”.

Sobre os dados obtidos da pesquisa, entre os resultados, conclui-se que “os visitantes se motivam a ir para esses geossítios por curiosidade, obtenção de conhecimento e beleza cênica e, em geral, vão com a família. A pesquisadora termina sua explanação destacando a importância do seu trabalho para a geoconservação.

“Observa-se que esse trabalho é relevante para disponibilizar uma base preliminar para estudos futuros de ações que possam melhorar essa percepção, porque a medida que essa percepção não é desenvolvida, o indivíduo não dá valor para aquele ambiente que está ao redor dele e tende a conservar e proteger aquilo que ele valoriza. Portanto, é necessário trabalhar a promoção da percepção e esse estudo vem ao encontro de propor uma base preliminar para futuros estudos estrategicamente voltados a isso”, conclui.

Além da participação de alunos, professores e colaboradores do IGc, a organização do evento também contou com o apoio da Pró-reitoria de Pós-Graduação da USP. Assista o 2º Simpósio de Pós-Graduação do IGc-USP, acessando o link: https://www.youtube.com/watch?v=NXeve1U42s8.

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